CBF lança grupo de trabalho para implementar fair play financeiro no futebol brasileiro

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deu o primeiro passo para instituir o fair play financeiro no Brasil, um modelo amplamente adotado na Europa para garantir a sustentabilidade financeira dos clubes. Nesta segunda-feira (9), o presidente da entidade, Samir Xaud, assinou uma portaria que cria um grupo de trabalho dedicado à elaboração do Regulamento do Sistema de Sustentabilidade Financeira (SSF), segundo informações do UOL. A iniciativa, que deve apresentar uma proposta em até 90 dias, visa enfrentar os crescentes desafios fiscais do futebol nacional.

A medida reflete a preocupação da CBF com a saúde financeira dos clubes brasileiros, muitos dos quais enfrentam dívidas elevadas e gestões insustentáveis. O documento assinado por Xaud destaca “riscos” associados às contas desequilibradas, que podem comprometer a competitividade e a continuidade das equipes. Liderado pelo vice-presidente da CBF, Ricardo Paulo, o grupo de trabalho terá a missão de desenvolver regras que promovam responsabilidade fiscal, inspirando-se em modelos como o da Uefa, mas adaptados à realidade brasileira.

Estrutura e prazos do grupo de trabalho

O grupo de trabalho será formado por representantes de clubes, federações e outros atores do futebol brasileiro, que terão cinco dias para manifestar interesse em participar. Caso o número de interessados seja elevado, Ricardo Paulo será responsável por selecionar os membros. A partir da composição do grupo, a CBF estipulou um prazo de 90 dias para a entrega de um regulamento detalhado, que será submetido à presidência da entidade para aprovação.

O foco do projeto é estabelecer normas que controlem gastos com transferências, salários e outras despesas, garantindo que os clubes operem dentro de suas capacidades financeiras. “O fair play financeiro não é só sobre punir, mas sobre criar um ambiente sustentável para o futebol brasileiro crescer”, afirmou Ricardo Paulo em entrevista ao UOL. A iniciativa também busca aumentar a transparência nas contas dos clubes, um tema sensível em um cenário marcado por dívidas históricas e recuperações judiciais.

Contexto e desafios

O futebol brasileiro vive um momento de transformação, com a chegada de Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) e a entrada de investidores em clubes tradicionais. No entanto, a falta de regulamentação financeira rigorosa tem permitido gestões arriscadas, resultando em dívidas acumuladas que, segundo estimativas, ultrapassam R$ 10 bilhões entre os principais clubes do país. O fair play financeiro da CBF pretende impor limites de gastos proporcionais às receitas, além de exigir maior rigor na apresentação de balanços.

Na Europa, o modelo da Uefa, implementado desde 2011, exige que os clubes equilibrem suas despesas com suas receitas, sob pena de sanções como multas, exclusão de competições ou restrições em contratações. No Brasil, a adaptação desse sistema enfrenta desafios como a heterogeneidade econômica entre clubes, a dependência de receitas de TV e patrocínios, e a resistência de algumas diretorias a controles mais rígidos.

Reações e expectativas

A criação do grupo de trabalho foi recebida com otimismo por especialistas, mas também com cautela. “É um passo necessário, mas a execução será o grande teste. Precisamos de regras claras e fiscalização independente para evitar que o projeto seja apenas simbólico”, avalia Mariana Lopes, economista especializada em gestão esportiva. Clubes menores, por outro lado, temem que as regras favoreçam grandes equipes com maior faturamento, ampliando desigualdades.

Representantes de torcidas organizadas e movimentos por transparência no futebol também cobram participação no debate. “Os clubes pertencem aos torcedores. Qualquer regulamentação precisa ouvir a base e garantir que os interesses dos fãs sejam protegidos”, destacou João Silva, líder de uma torcida do Rio de Janeiro.

Próximos passos

Com o prazo de 90 dias, a expectativa é que o regulamento do SSF seja apresentado até setembro de 2025, com possíveis testes na temporada 2026. A CBF ainda não detalhou quais sanções serão aplicadas em caso de descumprimento, mas fontes indicam que multas, bloqueios de transferências e até rebaixamento em competições nacionais estão em discussão.

A iniciativa marca um momento crucial para o futebol brasileiro, que busca equilibrar sua paixão pelo esporte com uma gestão financeira mais responsável. Se bem-sucedido, o fair play financeiro pode transformar o cenário dos clubes, promovendo sustentabilidade e competitividade. Resta saber se a CBF conseguirá superar resistências e implementar um sistema que atenda às necessidades de um futebol tão diverso e desafiador.

Notícias relacionadas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *