As vésperas do São João, Feira de Santana vive um frenesi comercial que transforma o Centro e o Calçadão da Sales Barbosa em pontos de efervescência econômica. Nesta sexta-feira (20), as ruas do comércio pulsaram com consumidores em busca de roupas, calçados e acessórios típicos para os festejos juninos, aquecendo as vendas em lojas de confecções, calçados e até de materiais de decoração. Comerciantes celebram o aumento de até 20% no faturamento, impulsionado pela tradição nordestina e pela proximidade dos arraiás nos distritos e cidades vizinhas, segundo estimativas do Sindicato do Comércio (Sicomércio).
Botas, camisas xadrez e calças jeans dominam as preferências, refletindo o estilo clássico do São João. “O movimento está excepcional. As pessoas querem estar no clima da festa, e isso se reflete nas vendas”, afirmou Wellington Silva, gerente de uma loja de calçados no Centro. A efervescência comercial, que se intensificou desde o feriado de Corpus Christi (19), reforça a posição de Feira como polo econômico regional, atraindo consumidores de cidades como Serrinha, Alagoinhas e Riachão do Jacuípe.
Botas e xadrez: os protagonistas do São João
Nas lojas de calçados, as botas são as estrelas da temporada. Wellington Silva, que gerencia uma unidade na Rua Sales Barbosa, destacou que os modelos country, com preços a partir de R$ 99,90, lideram as vendas. “A procura por botas começou há duas semanas e não para. Temos opções para todos os bolsos, e os preços estão estáveis em relação a 2024, variando conforme marca e modelo”, explicou. Mulheres representam a maioria dos clientes, mas a demanda masculina por botas de couro também cresce, impulsionada pela estética vaqueira.
Nas confecções, o look tradicional – calça jeans e camisa xadrez – segue imbatível. Ana Paula Ribeiro, gerente de uma loja na Avenida Getúlio Vargas, relatou que as camisas xadrez, com preços entre R$ 49,90 e R$ 120, esgotam rapidamente. “Os clientes querem o visual completo: camisa, jeans e cinto. Para as mulheres, vestidos xadrez e acessórios como chapéus também estão em alta”, disse. A loja contratou dois vendedores temporários para atender o pico de demanda, prática comum no período junino.
Acessórios como chapéus de palha, cintos com fivelas e lenços completam o visual e movimentam pequenas lojas e ambulantes no Calçadão. “Vendo chapéus a partir de R$ 20, e o movimento está tão bom que já repus o estoque três vezes”, contou o ambulante José Carlos Santos, 38 anos, que trabalha na Praça Bernardino Bahia.
Impacto econômico e estratégias
O São João 2025 deve gerar um incremento de 20% nas vendas do comércio feirense, superando os 10% projetados pelo Sicomércio para o mês de junho, segundo o presidente Marco Silva. A campanha “São João de Prêmios”, que sorteia três Renault Kwid 0 km, uma moto Honda Start 160 e vales-compra de R$ 1.000, incentiva o consumo, com cupons distribuídos a cada R$ 50 em compras. “A campanha motiva os clientes e aumenta o ticket médio”, afirmou Silva.
O horário estendido do comércio, até 20h no Centro e 22h nos shoppings Boulevard e Avenida, facilita as compras de última hora. “Muitos deixam para comprar na véspera, mas o movimento já estava forte desde o início da semana”, disse Ana Paula. Lojas de decoração também registram alta, com bandeirinhas, balões e enfeites juninos em destaque. “Vendemos kits completos para arraiás caseiros, e a procura cresceu 30%”, relatou a comerciante Lívia Mendes, 42 anos, do Calçadão.
O Centro de Abastecimento (Ceasa) acompanha o ritmo, com intensa procura por milho, amendoim e frutas para pratos típicos. A comerciante Sônia Oliveira, que atua no Feira VII, Tomba e Estação Nova, destacou que os preços estão dentro do esperado para a época. “Comprei milho, amendoim, maçã, pera e manga para revenda. O São João é nossa Black Friday”, comparou.
Contexto e desafios
Feira de Santana, conhecida como a Princesa do Sertão, é um polo comercial que atrai consumidores de toda a região durante o São João. A abertura do comércio no feriado de Corpus Christi, autorizada pela Convenção Coletiva, já sinalizava o aquecimento, com 15% de aumento nas vendas. No entanto, desafios como a concorrência com o e-commerce e a inflação, que encarece insumos, preocupam lojistas. “Mantivemos os preços de 2024 para não perder clientes, mas o custo do estoque subiu”, admitiu Wellington Silva.
A falta de planejamento em feriados anteriores, como o Dia das Crianças de 2024, quando a indefinição sobre a abertura gerou prejuízos, foi superada este ano com diálogo entre Sicomércio, Sindicato dos Empregados do Comércio (Secofs) e CDL. “A comunicação antecipada foi essencial para organizar estoques e equipes”, disse Marco Silva. Cerca de 500 empregos temporários foram gerados no comércio, com destaque para vendedores e estoquistas.
Impacto social e cultural
O movimento comercial reflete a força do São João como expressão cultural em Feira de Santana. “É mais que comprar uma roupa; é entrar no clima da festa, que faz parte da nossa identidade”, disse a estudante Mariana Costa, 22 anos, que comprou um vestido xadrez para o arraiá de Maria Quitéria. A proximidade de grandes festejos, como o São João de Serrinha e o Arraiá do Comércio, também atrai turistas, ampliando o impacto econômico.
Para os comerciários, o período é de trabalho intenso, mas também de ganhos extras. “A bonificação do feriado e as comissões do São João ajudam a fechar o mês no azul”, contou a vendedora Carla Souza, 30 anos. A prefeitura, que investiu R$ 2,4 milhões em atrações como Iguinho e Lulinha e Canários do Reino nos distritos, reforça a sinergia entre cultura e comércio.
Perspectivas para o São João
Com o comércio aquecido e os festejos juninos em pleno vapor, Feira de Santana vive um dos períodos mais vibrantes do ano. Lojistas apostam que o movimento seguirá forte até o dia 24, com picos no fim de semana. “O São João é nosso Natal. Quem trabalha no comércio sabe que é agora que a gente faz o ano”, resumiu Ana Paula Ribeiro.
A combinação de tradição, promoções e a animação dos arraiás promete manter o Centro de Feira pulsante, consolidando a cidade como um dos maiores polos juninos da Bahia. Para consumidores como José Almeida, 45 anos, o clima é de celebração: “Comprei minha bota, minha camisa xadrez e já estou pronto pro forró. É o São João de Feira, minha gente!”