ACM Neto minimiza polêmica e defende diálogo institucional entre José Ronaldo e Jerônimo Rodrigues

Em meio a especulações sobre uma possível reconfiguração política na Bahia, o ex-prefeito de Salvador e vice-presidente nacional do União Brasil, ACM Neto, abordou com serenidade a recente aproximação entre o prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo (União Brasil), e o governador Jerônimo Rodrigues (PT). Durante a sessão solene da Câmara de Vereadores de Feira, na quinta-feira (8), que homenageou a Família Magalhães com o título de cidadão feirense e a Comenda Maria Quitéria, Neto destacou a importância de relações institucionais maduras, afastando interpretações de que o diálogo entre Ronaldo e Jerônimo sinaliza uma adesão política. “Não há nenhum bicho de sete cabeças. O diálogo entre prefeito e governador é natural e necessário para o bem da cidade”, afirmou, com a habilidade política que caracteriza sua trajetória.

A interação entre Ronaldo e Jerônimo, intensificada desde uma reunião em fevereiro no Centro Administrativo da Bahia (CAB) e reforçada durante a Micareta de Feira, em maio, gerou burburinhos sobre uma possível aliança. Neto, no entanto, enfatizou que a relação é estritamente administrativa, voltada para pautas como segurança, saúde e infraestrutura. Sua declaração ocorre em um momento de tensões políticas na Bahia, com o União Brasil enfrentando a debandada de prefeitos para a base de Jerônimo e pesquisas indicando liderança de Neto em intenções de voto para 2026.

Contexto de uma relação histórica

A relação entre ACM Neto e José Ronaldo é marcada por décadas de parceria no carlismo, movimento político liderado pelo avô de Neto, Antônio Carlos Magalhães. Ronaldo, prefeito de Feira por quatro mandatos (2001-2008 e 2013-2020) e atual gestor desde 2024, foi um dos pilares do Democratas (atual União Brasil), ajudando a reformular o partido ao lado de Neto. “Minha relação com Zé Ronaldo é de longa estima, amizade e parceria. Sempre estivemos juntos”, reforçou Neto durante o evento, segundo o Acorda Cidade. Essa história, no entanto, não impediu atritos passados, como em 2022, quando Ronaldo esperava ser vice na chapa de Neto ao governo, mas foi preterido por Ana Coelho, do Republicanos, decisão que gerou críticas de aliados feirenses.

A aproximação de Ronaldo com Jerônimo começou a ganhar destaque em 2025, com encontros institucionais que resultaram em investimentos para Feira, como reforço policial e apoio à Micareta, maior festa popular do município. Em 19 de março, durante o evento “Cenários e Tendências 2025”, promovido pela CDL-Feira, a cordialidade entre os dois líderes alimentou especulações de uma aliança política, prontamente negada por Ronaldo, que classificou os encontros como “meramente institucionais”. Jerônimo, por sua vez, expressou otimismo sobre a parceria, destacando sua identidade feirense e o desejo de ampliar a colaboração em áreas como educação e estradas.

Uma crítica velada à narrativa do governo

Sem elevar o tom, Neto fez questão de diferenciar diálogo administrativo de adesão política, criticando indiretamente a estratégia da assessoria de Jerônimo de divulgar encontros institucionais como sinais de apoio político. “O governador chama o prefeito para uma foto, trata de pautas institucionais, e a assessoria vende como adesão. A imprensa precisa checar o que é relação administrativa e o que é apoio político”, disse, conforme relatado pelo Acorda Cidade. Ele defendeu que prefeitos, independentemente do partido, devem dialogar com o governo estadual sem sofrer discriminação, citando sua própria experiência como prefeito de Salvador (2013-2020), quando negociou com os governadores petistas Jaques Wagner e Rui Costa.

A declaração de Neto reflete um cenário político em transformação. Desde o início de 2025, Jerônimo recebeu 65 prefeitos de diversos partidos, incluindo sete do União Brasil, cinco dos quais declararam apoio ao governador para 2026, segundo o Acorda Cidade. Essa movimentação, que já custou ao União Brasil mais de 10% de seus 39 prefeitos eleitos em 2024, é vista por aliados de Neto como uma tentativa do PT de enfraquecer a oposição no interior. Analistas apontam que a força eleitoral de Feira, segunda maior cidade da Bahia com 400 mil eleitores, torna Ronaldo uma figura estratégica para ambos os lados.

O peso de 2022 e as projeções para 2026

A relação entre Neto e Ronaldo foi testada em 2022, quando o ex-prefeito de Feira coordenou a campanha de Neto ao governo, mas viu o União Brasil ser derrotado por Jerônimo no segundo turno (52,79% contra 47,21%). Durante a campanha, Jerônimo chegou a cortejar Ronaldo, oferecendo uma parceria que foi recusada, e acusou Neto de “desmerecer” Feira ao não escolher Ronaldo como vice. “Zé Ronaldo foi chamado para servir, mas Neto o destratou, desmerecendo não só ele, mas Feira de Santana”, disse Jerônimo em novembro de 2022, conforme o Acorda Cidade. Ronaldo, por sua vez, minimizou as críticas e celebrou o segundo turno como uma vitória, já que a Bahia não via tal disputa desde 1994.

Pesquisas recentes, como a Genial/Quaest de fevereiro de 2025, mostram Neto com 42% das intenções de voto para governador em 2026, contra 38% de Jerônimo, dentro da margem de erro. Apesar da aprovação de 61% do governo petista, a perda de aliados no União Brasil e a aproximação de prefeitos com Jerônimo indicam um jogo político intenso. A relação de Ronaldo com o governador, ainda que institucional, é vista por alguns como um sinal de pragmatismo em um município que depende de recursos estaduais.

Diálogo como ferramenta política

Neto usou o evento em Feira para reforçar sua visão de uma política madura, onde o diálogo prevalece sobre disputas partidárias. “Não há nada de errado em José Ronaldo ou qualquer prefeito dialogar com o governo do estado. É assim que deve ser. Espero que o governador não discrimine Feira por ter um prefeito do União Brasil”, declarou. A mensagem, segundo o Jornal Grande Bahia, responde às críticas de aliados de Jerônimo, como o deputado Radiovaldo Costa (PT), que acusou Neto de se incomodar com a articulação do governador no interior.

A habilidade de Neto em tratar o tema com naturalidade, sem atacar diretamente Ronaldo ou Jerônimo, foi elogiada por vereadores presentes no evento. “Neto mostrou que entende o jogo político. Ele protege a aliança com Ronaldo e, ao mesmo tempo, cobra coerência do governo”, avaliou o vereador Carlos Alberto, de Feira. Para Ronaldo, a parceria com o estado é uma necessidade administrativa, mas sua lealdade ao União Brasil permanece clara, especialmente após o apoio de Neto e do prefeito de Salvador, Bruno Reis, à sua candidatura em 2024.

Um futuro em aberto

A aproximação entre Ronaldo e Jerônimo, ainda que restrita ao âmbito institucional, mantém acesa a discussão sobre o futuro político da Bahia. Enquanto Neto busca consolidar sua liderança no União Brasil para 2026, enfrentando a debandada de aliados, Jerônimo amplia sua base no interior, capitalizando eventos como a Micareta para reforçar sua imagem em Feira. A postura conciliadora de Neto, que evita confrontos diretos, pode ser uma estratégia para preservar a aliança com Ronaldo, cuja influência em Feira é crucial para as ambições do União Brasil.

“Política é diálogo, mas também clareza. Ronaldo é nosso aliado histórico, e Feira sabe disso”, concluiu Neto, em tom que misturou confiança e cautela. À medida que 2026 se aproxima, a relação entre os três líderes – Neto, Ronaldo e Jerônimo – promete ser um dos eixos centrais da disputa pelo Palácio de Ondina, com Feira de Santana no centro do tabuleiro político baiano.

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