Justiça do Rio ordena novo depoimento de Coronel Nunes em caso que ameaça presidência de Ednaldo Rodrigues na CBF

A crise na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ganhou um novo capítulo com a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-Rio) de convocar o Coronel Antônio Carlos Nunes, ex-presidente interino da entidade, para um depoimento que pode selar o destino de Ednaldo Rodrigues, atual mandatário. A audiência, marcada para segunda-feira (12) às 14h na 21ª Câmara de Direito Privado, vai apurar a validade de uma assinatura de Nunes em um acordo de 2022 que garantiu a estabilidade de Rodrigues à frente da CBF. Alegações de falsificação, levantadas por opositores, colocam em xeque a legitimidade do documento, podendo levar ao afastamento do presidente e aprofundar a instabilidade no comando do futebol brasileiro.

A ordem judicial, assinada pelo desembargador Gabriel de Oliveira Zefiro – que em 2023 afastou temporariamente Rodrigues da presidência –, exige que Nunes comprove seu pleno estado de saúde e esclareça se autorizou o acordo que consolidou a chapa de Rodrigues na eleição de março de 2022. O depoimento, que poderá ser realizado por videoconferência, será entregue ao diretor jurídico da CBF, André Mattos, representante de Nunes na assinatura do documento. A decisão intensifica a batalha jurídica que opõe Rodrigues a dissidentes da entidade, liderados por ex-aliados como Reinaldo Carneiro Bastos, ex-presidente da Federação Paulista de Futebol, e coloca o futuro da CBF sob os holofotes.

O cerne da disputa

A controvérsia gira em torno de um acordo firmado em 2022 entre a CBF e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que restabeleceu a eleição de Ednaldo Rodrigues após a anulação de uma assembleia de 2018. Esse acordo, endossado por Nunes, então vice-presidente da CBF, permitiu que Rodrigues, eleito com 137 votos de federações e clubes, assumisse o comando da entidade em meio a uma crise de governança. O documento, no entanto, é questionado por opositores que alegam que a assinatura de Nunes foi falsificada ou obtida sem seu consentimento pleno, dado seu estado de saúde à época – ele sofreu um AVC em 2018, que comprometeu sua mobilidade e comunicação.

A denúncia de irregularidade ganhou força após a destituição temporária de Rodrigues em dezembro de 2023, determinada por Zefiro, que apontou falhas no processo eleitoral de 2022. Embora Rodrigues tenha retomado o cargo em janeiro de 2024, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), as acusações de falsificação persistem, alimentadas por grupos que buscam novas eleições na CBF. Segundo o UOL, a validade da assinatura de Nunes é a “peça central” do caso, e qualquer irregularidade pode invalidar o acordo, resultando na queda de Rodrigues e na convocação de um novo pleito.

Um depoimento sob pressão

O depoimento de Coronel Nunes, marcado para a próxima semana, será decisivo. Aos 86 anos, o ex-dirigente, que presidiu a CBF interinamente entre 2015 e 2018 após a renúncia de Marco Polo Del Nero, terá de demonstrar lucidez e capacidade para confirmar ou negar a autenticidade de sua assinatura. A justiça exigiu um laudo médico atualizado para atestar sua condição, uma medida que reflete preocupações com sua saúde após o AVC. A possibilidade de videoconferência visa facilitar sua participação, mas a ausência ou inconsistências em seu depoimento podem fortalecer a tese de falsificação, com consequências graves para Rodrigues.

André Mattos, diretor jurídico da CBF e responsável por representar Nunes no acordo de 2022, também está no centro da controvérsia. Adversários de Rodrigues, como o ex-vice-presidente Gustavo Feijó, alegam que Mattos agiu sem autorização explícita de Nunes, enquanto a gestão atual da CBF defende a legalidade do documento, sustentando que ele foi assinado com consentimento. “A CBF está tranquila. Tudo foi feito dentro da lei”, declarou um porta-voz da entidade ao Globo Esporte, embora a convocação de Nunes indique que o TJ-Rio busca esclarecimentos definitivos.

O impacto na CBF e no futebol brasileiro

A instabilidade na CBF, que gere um orçamento anual superior a R$ 1 bilhão e organiza competições como o Campeonato Brasileiro, preocupa clubes, patrocinadores e a Fifa, que já interveio em crises anteriores da entidade. Ednaldo Rodrigues, primeiro negro a presidir a CBF, assumiu em 2022 com a promessa de modernizar a gestão, combater corrupção e promover diversidade, mas enfrenta resistência de federações regionais e dissidentes que questionam sua legitimidade. Sua destituição em 2023, revertida pelo STF após pressão de jogadores e torcedores, expôs as frágeis costuras políticas da entidade.

Caso Rodrigues seja afastado, a CBF poderá enfrentar um vácuo de poder, com a possibilidade de intervenção judicial ou da Fifa, como ocorreu em 2015. “O futebol brasileiro não pode ficar refém de disputas judiciais. Precisamos de estabilidade para planejar o futuro”, afirmou o presidente do Bahia, Emerson Ferretti, em entrevista ao Bahia Notícias. A crise também coincide com desafios esportivos, como a preparação da Seleção Brasileira para a Copa de 2026 e a renovação de contratos de patrocínio, que exigem uma liderança consolidada.

Um julgamento com ecos políticos

A condução do caso pelo desembargador Gabriel de Oliveira Zefiro, conhecido por decisões rigorosas, adiciona peso ao depoimento de Nunes. Zefiro, que em 2023 anulou a eleição de Rodrigues por considerar o acordo de 2022 irregular, enfrenta críticas de apoiadores do presidente, que o acusam de parcialidade. Por outro lado, opositores como Reinaldo Carneiro Bastos, que já tentou articular uma chapa alternativa, veem na audiência uma chance de reabrir o processo eleitoral. “A CBF precisa de transparência. Se houve falsificação, os responsáveis devem responder”, declarou Bastos ao Estado de S.Paulo.

A audiência de segunda-feira também será acompanhada de perto pela imprensa e por torcedores, que temem que a crise administrativa afete o desempenho do futebol brasileiro. “É uma vergonha que a CBF esteja mais preocupada com tribunais do que com o campo”, desabafou a torcedora Mariana Costa, de 29 anos, em um grupo de WhatsApp de torcedores do Flamengo. O sentimento reflete a frustração com a sequência de escândalos que marcaram a entidade nas últimas décadas, de Ricardo Teixeira a Del Nero.

O futuro da CBF em jogo

O depoimento de Coronel Nunes não é apenas um procedimento judicial, mas um divisor de águas para a CBF. Uma decisão favorável a Rodrigues pode consolidar sua gestão até o fim do mandato, em 2026, enquanto uma sentença contrária abrirá espaço para novos embates políticos e jurídicos. A Fifa, que proíbe intervenções judiciais em suas afiliadas, já sinalizou que monitora o caso, o que aumenta a pressão por uma resolução interna.

Enquanto o Brasil aguarda o desfecho, a crise na CBF expõe as tensões entre modernização e velhas práticas de poder no futebol. “O que está em jogo não é só a cadeira de Ednaldo, mas a credibilidade do esporte mais amado do país”, resumiu o comentarista esportivo João Silva, da TV Bahia. Com o depoimento de Nunes, a justiça

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