São João de Jequié une Cocá e Jerônimo, enquanto Bahia enfrenta crise na infraestrutura e desafios sociais

A Bahia vive um momento de efervescência política e desafios estruturais às vésperas do São João, uma das maiores festas populares do Nordeste. Em Jequié, o prefeito Zé Cocá (PP) lançará na próxima segunda-feira (12) as atrações do São João, considerado um dos mais vibrantes do estado, com a presença confirmada do governador Jerônimo Rodrigues (PT). O evento, que promete aquecer a economia local, também simboliza a consolidação de uma aliança política estratégica entre os dois líderes, em um contexto marcado por obras em andamento e disputas regionais. Enquanto isso, a interdição da ponte sobre o Rio Jequitinhonha, o fechamento da Santa Casa de Itambé e questões sociais, como o combate à violência contra mulheres, expõem as fragilidades estruturais e administrativas do estado.

São João de Jequié: palco político e cultural

O lançamento do São João de Jequié, previsto para a próxima semana, vai além da celebração cultural. Zé Cocá, reeleito em 2024 com impressionantes 93,6% dos votos, aproveita o evento para reforçar sua liderança na região sudoeste e consolidar a aproximação com Jerônimo Rodrigues, que aportará recursos estaduais para a festa. “O São João é a cara de Jequié. Com o apoio do governador, vamos fazer uma festa inesquecível”, declarou Cocá em entrevista ao Jequié Repórter. A presença de Jerônimo, natural de Aiquara, a 43 km de Jequié, reforça os laços regionais e sinaliza uma aliança que pode redefinir o cenário político para 2026.

A reaproximação entre Cocá e o PT é um marco na política baiana. Historicamente ligado a João Leão (PP), vice-governador de Rui Costa (PT) até o rompimento em 2022, Cocá seguiu Leão na apoio a ACM Neto (União Brasil) na eleição estadual, o que o colocou em rota de colisão com o PT. No entanto, sua vitória esmagadora em 2024 e a entrega de obras estaduais em Jequié, como a pavimentação de estradas e investimentos em saúde, pavimentaram o caminho para a reconciliação. “Política é soma. Cocá é um líder forte, e Jerônimo sabe disso”, afirmou o senador Jaques Wagner (PT), endossando a aliança, segundo o Bahia Notícias.

A ausência de adversários competitivos em Jequié facilita o cenário. Deputados como Antonio Brito (PSD) e Euclides Fernandes (PT), críticos de Cocá, não conseguiram lançar candidatos viáveis na eleição municipal, o que fortalece a posição do prefeito. O deputado estadual Hassan Iossef (PP), aliado de Cocá, é categórico: “A parceria com Jerônimo é um casamento que vai dar certo. As obras estão andando, e o povo vê os resultados.” Analistas apontam que a aliança pode garantir a Cocá um papel central nas articulações do PP para 2026, possivelmente como candidato a deputado federal ou até vice em uma chapa governista.

Ponte do Jequitinhonha: um gargalo na BR-101

Enquanto Jequié se prepara para o São João, a interdição total da ponte sobre o Rio Jequitinhonha, na BR-101, em Itapebi, desde 5 de maio, provoca transtornos na região sul da Bahia. A medida, anunciada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para inspeções estruturais, deve se estender até 20 de maio, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Desde janeiro, a ponte já estava interditada para cargas pesadas, mas a paralisação total do tráfego tem gerado prejuízos econômicos e logísticos.

A deputada Cláudia Oliveira (PSD) destacou o impacto na economia local: “A ponte é vital para o escoamento de produtos e o turismo na Costa do Descobrimento. A falta de planejamento e orientação sobre desvios agrava a situação.” O deputado Eduardo Salles (PP), presidente da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), foi mais duro: “A infraestrutura da Bahia está abandonada. Essa interdição é um reflexo da má gestão federal e estadual.” Caminhoneiros, como Alcides Andrade, relatam perdas significativas: “O desvio aumenta o percurso em 300 km ou obriga a passar por estradas de terra, onde carretas atolam com as chuvas.”

O DNIT informou que a inspeção visa garantir a segurança da estrutura, mas não divulgou planos para acelerar a obra ou indenizar os afetados. A situação reacende o debate sobre a precariedade das rodovias baianas, como a BR-324 e a BR-116, administradas pela concessionária ViaBahia, alvo constante de críticas por má conservação.

Combate à violência contra mulheres: um cadastro estadual

Na Assembleia Legislativa, a deputada Olívia Santana (PCdoB) celebrou a aprovação de seu projeto que cria o Cadastro Estadual de Autores de Violência Contra a Mulher. A proposta, aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na última semana, visa centralizar dados de agressores – incluindo local, data, tipo de violência e características do autor – para facilitar o monitoramento e prevenir reincidências. “Queremos dar visibilidade aos padrões de violência e proteger as vítimas”, afirmou Santana ao A Tarde.

Apesar do avanço, a limitação do cadastro ao território baiano é vista como um obstáculo. “Um banco de dados nacional seria mais eficaz, já que agressores podem se deslocar entre estados”, avalia a advogada feminista Lívia Souza, da Rede de Mulheres Negras da Bahia. O projeto agora segue para votação no plenário, com apoio de deputados da base governista e da oposição.

Santa Casa de Itambé: crise na saúde

No sudoeste baiano, o fechamento temporário da Santa Casa de Itambé, responsável pelo Hospital São Sebastião, expôs a fragilidade do sistema de saúde regional. A instituição suspendeu os atendimentos na última segunda-feira (5) por falta de recursos, reabrindo precariamente após um acordo com a prefeitura. O deputado Tiago Correia (PSDB) cobrou medidas do governo estadual: “Itambé está desassistida. Sem a Santa Casa, pacientes precisam ir a Vitória da Conquista ou Itapetinga, a mais de 50 km. O estado deve construir uma UPA na cidade.”

A crise reflete o subfinanciamento crônico da saúde na Bahia. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), a Santa Casa enfrenta dívidas acumuladas, mas negociações com o município e o governo estadual buscam uma solução definitiva. Moradores, como a comerciante Ana Ribeiro, lamentam: “É desumano. Quem precisa de emergência fica à mercia da sorte.”

Registros: denúncias, desistências e tragédias

  • Eduardo Vasconcelos em Brumado: O ex-prefeito de Brumado, Eduardo Vasconcelos, quatro vezes chefe do executivo municipal, enfrenta denúncias no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Vereadores questionam a contratação da empresa S&P Construção do Sudoeste, por R$ 427.852, sem licitação, para serviços de limpeza, manutenção predial e sepultamento em 2020. O TCM acatou a denúncia, e Vasconcelos, que se declarou aposentado da política em 2024, nega irregularidades: “Tudo foi feito dentro da lei, em caráter emergencial.” O caso segue em investigação.
  • Antonio de Anísio em Itacaré: Ex-prefeito de Itacaré por dois mandatos (2005-2012), Antonio de Anísio (PT) desistiu de concorrer a deputado estadual, alegando “excesso de candidatos” na região. Ele anunciou apoio a Rosemberg Pinto (PT), líder do governo na Alba, e ao prefeito Nego de Saronga (PT), reforçando a base petista no sul da Bahia. “Itacaré precisa de unidade, e Rosemberg é nosso nome”, afirmou Anísio ao Sul Bahia News.
  • Tragédia em Rafael Jambeiro: A cidade de Rafael Jambeiro, na região de Castro Alves, vive luto pela morte de Antonio Pereira de Oliveira Sobrinho, conhecido como Tõe de Deco, ex-vereador de 80 anos. No último domingo (4), ele faleceu após ser atingido por um coice de vaca enquanto ordenhava em uma fazenda em Argoim. “Tõe era um homem do povo, sempre presente. A cidade está em choque”, declarou o prefeito João Paulo Oliveira (PT) ao Tribuna do Recôncavo. O incidente reacende debates sobre a segurança no trabalho rural.

Um estado em transformação e desafios

A Bahia de 2025 é um mosaico de celebrações, como o São João de Jequié, e problemas estruturais que exigem soluções urgentes. A aliança entre Zé Cocá e Jerônimo Rodrigues simboliza a busca por estabilidade política em um estado historicamente polarizado, mas a interdição da ponte do Jequitinhonha, a crise na Santa Casa de Itambé e a necessidade de políticas públicas mais robustas, como o cadastro de agressores, mostram que os desafios persistem. “A Bahia cresce, mas precisa de planejamento e compromisso com o interior”, resume o cientista político Joviniano Neto, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Enquanto Jequié se prepara para dançar o forró, a população baiana cobra respostas para a infraestrutura precária, a saúde em colapso e a violência persistente. O São João pode unir Cocá e Jerônimo no palco, mas o futuro político e social do estado dependerá de ações concretas além da festa.

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