Em uma eleição marcada por controvérsias e ausência de parte dos clubes de elite, Samir Xaud, de 41 anos, foi confirmado como novo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) neste domingo (25), na sede da entidade, no Rio de Janeiro. Com chapa única, intitulada “Futebol para Todos: Transparência, Inclusão e Modernização”, o médico roraimense obteve 103 dos 141 votos possíveis, assumindo o comando da CBF até 2029, sucedendo Ednaldo Rodrigues, afastado por decisão judicial. A votação, realizada com urna eletrônica e opção de participação remota, reflete um momento de turbulência no futebol brasileiro, com críticas à escolha de Xaud e questionamentos sobre a governança da entidade.
Trajetória e controvérsias
Natural de Boa Vista, Roraima, Samir Xaud é médico especializado em infectologia e medicina esportiva, com formação em Gestão do Futebol pela Federação Paulista de Futebol (FPF) e CBF Masters pela CBF Academy. Eleito presidente da Federação Roraimense de Futebol (FRF) em janeiro de 2025, Xaud sucederia seu pai, Zeca Xaud, que liderou a entidade por quase cinco décadas, a partir de 2027. Contudo, ao assumir a CBF, ele abrirá mão do cargo na FRF, devido à incompatibilidade de funções. Além da gestão esportiva, Xaud é empresário, proprietário de um centro de treinamento voltado à saúde e bem-estar, e já foi diretor do Hospital Geral de Roraima.
A ascensão de Xaud, no entanto, é cercada por polêmicas. Seu nome está associado a suspeitas de irregularidades, incluindo a gestão do hospital que dirigiu em Roraima e parcerias comerciais controversas. Familiares também aparecem em escândalos: sua irmã Samara é casada com um ex-deputado investigado por desvios, e sua irmã Sandrea é esposa de um empresário acusado de superfaturar testes de Covid-19. Xaud ainda foi sócio de uma empresa investigada por fraudes em contratos de alimentação em Roraima, conforme revelou a Operação Escuridão, da Polícia Federal, em 2018. Essas questões alimentaram críticas, como as do jornalista Juca Kfouri, que o chamou de “paraquedista sem paraquedas” e questionou sua relevância no futebol brasileiro.
A eleição e o boicote
A eleição de Xaud foi marcada por um colégio eleitoral reduzido. Das 27 federações estaduais, apenas a Federação Paulista de Futebol (FPF), presidida por Reinaldo Carneiro Bastos, não compareceu, em protesto contra o processo eleitoral. Entre os 40 clubes das Séries A e B do Brasileirão, apenas 20 participaram, incluindo Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras, Santos, Vasco, Vitória e clubes da Série B como Amazonas e Paysandu. A ausência de metade dos clubes de elite, que apoiavam Bastos, reflete insatisfação com a condução do pleito e a falta de competitividade, já que Xaud reuniu apoio de 25 federações e 10 clubes, inviabilizando candidaturas adversárias.
A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, defendeu a eleição, destacando a abertura de Xaud ao diálogo. “Ele se mostrou disposto a conversar sobre as demandas dos clubes. Não é momento de exigências, mas de entendimento”, afirmou. Já os clubes dissidentes, em manifesto conjunto, exigiram reformas no processo eleitoral da CBF e maior protagonismo das agremiações, sinalizando tensões futuras na relação com a nova gestão.
Propostas e desafios
Em seu primeiro discurso, Xaud anunciou medidas como limitar os campeonatos estaduais a 11 datas, combater o racismo no futebol e manter Carlo Ancelotti como técnico da Seleção Brasileira masculina, garantindo continuidade ao projeto para a Copa de 2026. Ele também prometeu profissionalizar a arbitragem, investir no futebol feminino e reorganizar o calendário nacional, sem extinguir os estaduais, que considera essenciais para o futebol regional.
A chapa de Xaud inclui oito vice-presidentes, como Michelle Ramalho, primeira mulher na vice-presidência da CBF, Fernando Sarney, interventor e ex-vice de Ednaldo, e Flávio Zveiter, ex-presidente do STJD. A presença de figuras ligadas à gestão anterior levanta dúvidas sobre o caráter de renovação prometido.
Contexto e perspectivas
A eleição ocorre após a destituição de Ednaldo Rodrigues, acusado de irregularidades em sua reeleição, incluindo uma suposta falsificação de assinatura em um acordo judicial. O processo, conduzido sob intervenção de Fernando Sarney, foi criticado por sua rapidez e por privilegiar um candidato com apoio de federações, em detrimento dos clubes, que têm peso menor no sistema eleitoral da CBF.
Xaud assume a CBF em um cenário de crise de credibilidade e pressão por modernização. Sua gestão será julgada pela capacidade de cumprir promessas de transparência e inclusão, dialogar com clubes dissidentes e fortalecer a Seleção Brasileira. O desafio é monumental: unir um futebol brasileiro fragmentado e recuperar a confiança de torcedores, que, nas redes sociais, expressam ceticismo sobre sua nomeação, apontando a influência de velhas práticas cartolísticas.