A banda Magníficos, um dos nomes mais tradicionais do forró nordestino, enfrentou críticas após o cancelamento de sua apresentação no São João do Gurutuba, em Guanambi, no sudoeste da Bahia, na madrugada de sexta-feira, 20 de junho de 2025. O grupo, que já havia recebido metade do cachê de R$ 250 mil, não compareceu ao evento devido a imprevistos logísticos, gerando frustração entre o público e a organização. Na segunda-feira, 23 de junho, a banda se pronunciou oficialmente, lamentando o ocorrido e confirmando o ressarcimento do valor pago pela Prefeitura de Guanambi, que acionou seu jurídico para garantir a devolução.
O que levou ao cancelamento
A apresentação da Magníficos estava marcada para as 21h de quinta-feira, 19 de junho, na Praça do São João, principal palco do evento junino de Guanambi. No entanto, o grupo não chegou ao local até as 4h30 da madrugada, horário limite estipulado pela organização. Segundo o prefeito Nalini Azevedo (Avança Guanambi), a banda enfrentou atrasos significativos após um show em Mortugaba, cidade a cerca de 130 quilômetros de distância. “Houve um engarrafamento de mais de duas horas na estrada, o que atrasou o início da apresentação em Mortugaba para as 23h. Depois, um pequeno imprevisto com veículos dificultou a saída do ônibus da banda”, explicou Azevedo em vídeo publicado nas redes sociais.
Por volta das 3h30, já em Pindaraí, cidade vizinha a Guanambi, o empresário da banda contatou a prefeitura, oferecendo-se para realizar o show apesar do horário avançado. “A praça já estava praticamente vazia, e optamos por cancelar para respeitar o público e o cronograma do evento”, afirmou o prefeito. A decisão foi comunicada ao público pelo assessor de imprensa da prefeitura, Clóvis Mendes, que, em um vídeo amplamente compartilhado, expressou indignação e anunciou a quebra de contrato, exigindo a devolução do cachê de R$ 125 mil pago antecipadamente.
Pronunciamento da banda
Na segunda-feira, a Magníficos usou as redes sociais para esclarecer o episódio, respondendo diretamente à publicação do prefeito. “Infelizmente, enfrentamos imprevistos no deslocamento, o que comprometeu nosso horário de chegada para a realização do show. Agradecemos a compreensão e seguimos com o coração aberto, na esperança de reencontrar em breve essa cidade tão acolhedora”, escreveu o grupo. A banda também confirmou que seu setor jurídico está em contato com a prefeitura para agilizar a devolução do valor pago, conforme exigido pelo município.
O pronunciamento dividiu opiniões. Enquanto alguns fãs demonstraram apoio, outros criticaram a falta de planejamento. “É uma pena, mas imprevistos acontecem. Espero que voltem logo a Guanambi”, escreveu um seguidor no Instagram. Já outro internauta disparou: “Falta de respeito com os fãs que esperaram até de madrugada. O mínimo era uma explicação mais clara desde o início.”
Impacto financeiro e jurídico
O cachê de R$ 250 mil acordado com a Magníficos é o terceiro maior do São João de Guanambi, segundo o Painel de Transparência dos Festejos Juninos do Ministério Público da Bahia (MP-BA). Metade desse valor, R$ 125 mil, foi pago antecipadamente, como previsto em contrato, e a prefeitura agora busca o reembolso integral. “Estamos tomando todas as medidas legais para garantir que o dinheiro público seja ressarcido. Respeitamos a história da banda, mas o compromisso não foi cumprido”, declarou Azevedo.
Dados do MP-BA revelam que a Magníficos tinha 15 contratos firmados para o São João 2025 em cidades baianas, totalizando cerca de R$ 4,7 milhões em cachês, com valores variando entre R$ 250 mil e R$ 350 mil por apresentação. O cancelamento em Guanambi, um dos principais polos juninos do sudoeste baiano, gerou prejuízo não apenas financeiro, mas também à imagem do evento, que atrai milhares de visitantes.
Repercussão e contexto
O caso ganhou ampla repercussão nas redes sociais, com vídeos do anúncio do cancelamento alcançando milhares de visualizações. A indignação do público presente na Praça do São João foi agravada pela longa espera, com alguns fãs permanecendo no local até as 5h. “É uma falta de profissionalismo. A gente veio de longe pra ver a Magníficos e saiu frustrado”, desabafou um morador em entrevista ao portal G1 Bahia.
O São João do Gurutuba é um dos eventos mais tradicionais da região, conhecido por sua programação diversificada e pela valorização da cultura nordestina. Apesar do incidente, a festa seguiu com apresentações de artistas como Tarcísio do Acordeon e Calcinha Preta, mantendo o clima junino. A prefeitura reforçou que o cancelamento foi uma exceção e que o município investiu em infraestrutura e segurança para garantir a qualidade do evento, que movimentou milhões na economia local.
Lições e perspectivas
O episódio expõe os desafios logísticos enfrentados por artistas durante o São João, período de alta demanda em que bandas frequentemente encaram agendas apertadas e deslocamentos longos. Especialistas apontam que atrasos e cancelamentos, embora raros, podem ser minimizados com maior planejamento e comunicação entre contratantes e produtores. “Eventos como o São João exigem uma logística impecável. Imprevistos no trânsito são comuns, mas é preciso ter planos de contingência”, afirmou o produtor cultural João Silva, em entrevista ao Correio.
Para Guanambi, o caso serve como alerta para a revisão de contratos e a exigência de maior pontualidade em futuros eventos. A Magníficos, por sua vez, busca reparar o dano à sua imagem, prometendo retornar à cidade em breve. Enquanto o imbróglio jurídico segue, a prefeitura e a banda trabalham para resolver a questão de forma amigável, priorizando o respeito ao público e à tradição do São João baiano.