Cachoeira assume o título de capital da Bahia em celebração aos 203 anos da luta pela Independência

Cachoeira, no Recôncavo Baiano, tornou-se, nesta quarta-feira, 25 de junho de 2025, a capital simbólica da Bahia, marcando o início das comemorações da luta pela Independência do Brasil na região. A cerimônia, conduzida pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT), celebrou os 203 anos do marco histórico de 25 de junho de 1822, quando movimentos populares e políticos em Cachoeira deflagraram a resistência contra o domínio português, culminando na expulsão das tropas lusitanas em 2 de julho de 1823. A transferência da sede do governo, prevista na Lei Estadual nº 10.695/2007, reuniu autoridades, estudantes e moradores em uma programação cívica que reforçou a identidade histórica da “Cidade Heroica”.

Um marco histórico

Em 25 de junho de 1822, Cachoeira protagonizou um ato decisivo ao proclamar Dom Pedro de Alcântara como regente constitucional e defensor perpétuo do Brasil, desafiando a autoridade portuguesa. A decisão, tomada na Câmara Municipal, desencadeou a primeira batalha contra uma escuna militar lusitana no Rio Paraguaçu, que foi capturada após três dias de confronto, em 28 de junho. Esse episódio marcou o início da luta pela Independência na Bahia, que se estendeu por mais de um ano até a vitória final em Salvador. “Cachoeira foi o berço da resistência baiana. Aqui, artesãos, agricultores e comerciantes largaram suas ferramentas para lutar pela liberdade”, destacou o governador Jerônimo Rodrigues durante a solenidade.

A cerimônia de 2025 começou às 6h com uma alvorada de fogos no porto de Cachoeira, seguida pelo hasteamento das bandeiras do Brasil, da Bahia e do município na Praça da Aclamação. O tradicional Te Deum, canto litúrgico realizado há 196 anos na Igreja Matriz da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, homenageou heróis como Maria Quitéria, Maria Felipa e João das Botas. Desfiles cívicos com fanfarras, cortejos culturais e a participação da Filarmônica 25 de Junho animaram as ruas do centro histórico, tombado pelo Iphan, enquanto o SAC Móvel ofereceu serviços como emissão de documentos à população.

Vozes da comunidade

A emoção marcou a presença de moradores como Terezinha Barbosa, 67 anos, que acompanha a celebração desde jovem. “Cachoeira se enfeita para lembrar nossos antepassados. É um orgulho saber que a história do Brasil passa por aqui”, disse. O professor de História Marcelo Nogueira, que leva seus alunos à solenidade há 15 anos, reforçou a importância pedagógica do evento. “Estar aqui é um ato de resistência. Ensinar o 25 de Junho nas escolas é essencial para formar cidadãos conscientes da nossa história”, afirmou.

O secretário de Cultura, Bruno Monteiro, destacou a dimensão política da data. “Celebrar o 25 de Junho é reconhecer o protagonismo do povo baiano, especialmente dos negros, indígenas e trabalhadores que lutaram pela independência. É o DNA da resistência do Recôncavo”, declarou. Já o secretário de Turismo, Maurício Bacelar, apontou o potencial econômico da cidade. “Cachoeira é um tesouro cultural. Investir em turismo histórico fortalece a economia local e preserva nossa memória”, disse.

Legado e desafios

A cerimônia também abriu as comemorações do 2 de Julho, feriado estadual que marca a expulsão definitiva dos portugueses. A prefeita Eliana Gonzaga (Republicanos) celebrou a relevância do evento: “Cachoeira deu os primeiros passos para a independência. A presença do governo aqui reforça nosso compromisso com essa história.” A programação incluiu a instalação de um totem na Praça da Aclamação, simbolizando o Bicentenário da Independência (2023), e anúncios de medidas como a regularização fundiária de quilombos e a capacitação de guias turísticos, com apoio do Ministério da Educação.

Apesar do orgulho cívico, historiadores como Igor Almeida alertam para o risco de “carnavalização” da data, que coincide com os festejos juninos. “Precisamos equilibrar a festa com o caráter cívico, incentivando a participação de estudantes e a inclusão do 2 de Julho no currículo escolar”, sugere. A recuperação de documentos históricos, iniciada em 1960 e intensificada nos últimos anos, também reforça a preservação do acervo de Cachoeira, que guarda registros desde 1790.

Um símbolo de resistência

Cachoeira, com cerca de 33 mil habitantes, foi a primeira capital brasileira da Bahia, enquanto Salvador permanecia sob domínio português em 1822. Sua posição estratégica no Rio Paraguaçu e a mobilização de figuras como Maria Quitéria, que se disfarçou de homem para lutar, consolidaram seu papel na história. O ex-governador Jaques Wagner, idealizador da lei de 2007, reforçou a importância da data em postagem nas redes sociais: “O 25 de Junho celebra a força do povo baiano, especialmente das mulheres e negros que resistiram. É um compromisso com a liberdade e a justiça social.”

As celebrações em Cachoeira abrem caminho para o 2 de Julho, com eventos programados em Salvador, como a aula pública “2 de Julho: A Verdadeira Independência do Brasil”, no Armazém do Campo, e o desfile cívico no Largo da Lapinha. Enquanto a cidade se despede do título de capital, o legado de 1822 permanece vivo, inspirando novas gerações a valorizar a luta pela soberania e a identidade baiana.

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