Conclave de 2025: Igreja Católica se prepara para eleger o 267º papa com mudanças e diversidade

A Igreja Católica está às vésperas de um momento histórico: o conclave que escolherá o sucessor do papa Francisco, falecido em 21 de abril, terá início na próxima quarta-feira, 7 de maio, na Capela Sistina. Com a Sé Apostólica vacante, 132 cardeais eleitores de 71 países se reunirão em um ritual milenar para eleger o 267º papa, em um processo marcado por mudanças recentes, maior diversidade no colégio eleitoral e expectativas sobre o futuro da Igreja. A tradicional chaminé, instalada na sexta-feira (2/5) pelos bombeiros do Vaticano, já simboliza a iminência do evento, que anunciará ao mundo, por meio da fumaça branca, o novo líder de 1,4 bilhão de católicos.

O conclave de 2025 ocorre após um período de luto de nove dias, iniciado com o sepultamento de Francisco em 26 de abril. A cerimônia, que reuniu chefes de Estado, monarcas e milhares de fiéis na Praça de São Pedro, destacou o legado do primeiro pontífice latino-americano, conhecido por sua defesa dos pobres e da paz. Agora, o foco se volta para a Capela Sistina, onde os cardeais, isolados do mundo exterior, buscarão consenso em um processo envolto em sigilo e espiritualidade.

Mudanças no ritual e no colégio eleitoral

O conclave segue tradições centenárias, mas adaptações recentes, implementadas pelo próprio Francisco, marcam a edição de 2025. A Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis (1996), de João Paulo II, estabelecia um limite de 120 cardeais eleitores com menos de 80 anos. No entanto, Francisco flexibilizou essa regra, permitindo a participação de 132 votantes, dos quais 108 foram nomeados por ele. Essa decisão, respaldada pelo artigo 36 da constituição, reflete o esforço do papa argentino em ampliar a representatividade de regiões como África, Ásia e América Latina, reduzindo a predominância europeia. Pela primeira vez, menos da metade dos eleitores será europeia, com 34 cardeais da Europa, 30 das Américas, 40 da África e Ásia e 4 da Oceania.

Outra novidade é a diversidade etária e espiritual do colégio. O cardeal mais jovem, Mikola Bychok, ucraniano de 45 anos radicado na Austrália, contrasta com o espanhol Carlos Osoro Sierra, de 79 anos. Entre os votantes, 33 pertencem a ordens religiosas, com destaque para os salesianos (cinco membros), além de jesuítas, franciscanos e dominicanos. Essa pluralidade reflete a visão de Francisco de uma Igreja mais global e pastoral, voltada para as periferias.

Três cardeais aptos a votar não participarão: o italiano Giovanni Angelo Becciu, condenado por desvio de verbas, retirou-se voluntariamente “pelo bem da Igreja”, enquanto os cardeais Vinko Puljić (Bósnia) e Antonio Cañizares (Espanha) alegaram motivos de saúde. A ausência de Becciu, em particular, foi recebida com respeito pela Congregação dos Cardeais, que busca preservar a serenidade do processo.

O ritual do conclave

O conclave, cujo nome deriva do latim cum clave (“com chave”), é um ritual de sigilo absoluto, realizado na Capela Sistina sob os afrescos de Michelangelo. Na manhã do dia 7, os cardeais participarão de uma missa solene na Basílica de São Pedro, seguida de uma procissão até a capela, entoando o hino Veni Creator Spiritus. Após o juramento de segredo, o mestre de cerimônias pronunciará o extra omnes (“todos para fora”), isolando os eleitores.

As votações, iniciadas com uma rodada na tarde do primeiro dia, prosseguem com até quatro sessões diárias (duas pela manhã, duas à tarde). Cada cardeal escreve o nome de seu candidato em uma cédula com a inscrição Eligio in Summum Pontificem (“Eu elejo como Sumo Pontífice”). Para ser eleito, um candidato precisa de dois terços dos votos, ou seja, pelo menos 88 dos 132. Após cada sessão, as cédulas são queimadas: fumaça preta indica ausência de consenso; fumaça branca anuncia o Habemus Papam. Em caso de impasse após três dias, uma pausa de 24 horas é feita para orações, e, após 34 votações sem resultado, os dois mais votados disputam um “segundo turno”.

Quando um cardeal é eleito, ele é questionado se aceita o cargo e escolhe seu nome papal. Na “Sala das Lágrimas”, veste a batina branca e é apresentado à multidão na Praça de São Pedro, onde o novo papa pronuncia a bênção urbi et orbi (“à cidade e ao mundo”).

Expectativas e desafios

A escolha do novo papa ocorre em um momento de divisões internas na Igreja, entre vozes progressistas, alinhadas ao legado inclusivo de Francisco, e setores conservadores, que buscam maior rigor doutrinário. A influência de Francisco, que nomeou 80% dos eleitores, sugere a possível continuidade de sua visão, com ênfase em justiça social, mudanças climáticas e diálogo inter-religioso. Nomes como o italiano Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, o filipino Luis Antonio Tagle e o ganês Peter Turkson aparecem entre os cotados, mas a diversidade do colégio pode levar a surpresas.

O Brasil, com sete cardeais eleitores – Sérgio da Rocha, Jaime Spengler, Odilo Scherer, Orani Tempesta, Paulo Cezar Costa, João Braz de Aviz e Leonardo Ulrich Steiner –, tem peso inédito no conclave. Embora especialistas considerem improvável a eleição de um brasileiro, a presença desses cardeais reforça a influência latino-americana.

Enquanto o Vaticano se prepara, a expectativa global cresce. “A atmosfera é de diálogo e reflexão”, afirmou o cardeal colombiano Jorge Enrique Jimenez Carvajal, destacando a diversidade das discussões preparatórias. Com um colégio cardinalício mais plural do que nunca, o conclave de 2025 promete não apenas eleger um novo papa, mas também sinalizar o rumo da Igreja Católica em um mundo em transformação.

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