Feira de Santana: entre a Micareta, os buracos e a “sugesta” do povo

Feira de Santana viveu um dia de efervescência popular nesta segunda-feira, 13 de maio de 2025, quando o programa Acorda Cidade, comandado pelo radialista Dilton Coutinho, se transformou em um termômetro das insatisfações da população. A pauta inicial era a Micareta, a icônica festa que agita a cidade e que, neste ano, foi realizada no último fim de semana. No entanto, o que deveria ser uma discussão sobre o futuro do evento descambou para um desabafo coletivo sobre buracos nas ruas, infraestrutura precária e até a aprovação recorde do prefeito José Ronaldo de Carvalho.

Micareta: um debate que ninguém sabe quando quer

Durante uma coletiva de balanço da Micareta, o prefeito José Ronaldo anunciou que busca sugestões para uma nova data para a festa, mencionando novembro como possibilidade. A proposta, que visava antecipar o planejamento — uma demanda histórica da população —, acabou gerando reações contraditórias. “A cidade cheia de problemas e vocês falando de Micareta?”, disparou um ouvinte no programa, ecoando a frustração de muitos. A ironia é que, por anos, a crítica recorrente era justamente a falta de debates prévios sobre o evento. Agora, com a discussão proposta com antecedência, a paciência parece ter se esgotado antes mesmo de começar.

O radialista Dilton Coutinho tentou mediar, mas a “sugesta” — termo que encapsula a mistura de ansiedade, indignação e impaciência tão característica dos feirenses — tomou conta. “Se não falam da festa, reclamam. Se falam, reclamam também”, resumiu Coutinho, capturando o paradoxo que define o humor da cidade.

Aprovação do prefeito: 80% de mistério?

Outro tema que incendiou os ânimos foi a pesquisa recente que apontou mais de 80% de aprovação para José Ronaldo nos primeiros 100 dias de seu mandato. Para muitos ouvintes, o número soou inverossímil diante dos desafios enfrentados pela cidade. “De onde vem essa aprovação? As ruas estão esburacadas, falta remédio nos postos, as escolas estão sem estrutura”, questionou um morador, refletindo a desconfiança generalizada. A metodologia da pesquisa, embora não detalhada no programa, virou alvo de especulações, enquanto a tolerância com os problemas urbanos segue em baixa.

Buracos: o eterno calcanhar de Aquiles

Se há um assunto que unifica as reclamações em Feira de Santana, é a buraqueira. Durante o programa, Dilton mencionou problemas na Avenida Fraga Maia, mas foi rapidamente corrigido por um ouvinte: “Fraga Maia é um tapete! Vá para a Estrada do Papagaio ou do Francês pra ver o que é destruição”. As chuvas recentes, que transformam ruas mal pavimentadas em verdadeiras crateras, só amplificam o problema. Um motorista de aplicativo desabafou: “Pensei em desistir do trabalho por causa dos buracos. Como ter paciência com a mesma ladainha há 20 anos?”

O cenário descrito pelos ouvintes pinta uma cidade onde a mobilidade é um desafio diário, com impactos diretos na economia local e na qualidade de vida. A prefeitura, embora tenha anunciado obras como o novo complexo esportivo no bairro Subaé, ainda enfrenta dificuldades para atender à demanda por manutenção urbana em larga escala.

A “sugesta” como identidade feirense

Mais do que um programa de rádio, o Acorda Cidade de segunda-feira cristalizou a “sugesta” como um traço cultural de Feira de Santana. É um sentimento que mistura participação cívica, ironia e indignação, manifestado em cada ligação, cada crítica, cada desabafo. “A ‘sugesta’ é nosso patrimônio imaterial”, brincou um ouvinte, em um raro momento de leveza. E, de fato, ela parece ser o motor que mantém a cidade em movimento — seja na cobrança por melhores ruas, seja na paixão pela Micareta.

Uma cidade que celebra e cobra

Feira de Santana é, acima de tudo, uma cidade de contrastes. É o lugar onde os trios da Micareta dividem espaço com o barulho dos pneus caindo em buracos. Onde a festa popular mobiliza multidões, mas a infraestrutura básica provoca revolta. Onde a aprovação de um prefeito convive com a insatisfação ruidosa de seus eleitores. E, no centro disso tudo, está a “sugesta”: incômoda, contraditória, mas indispensável para que a cidade não pare.

Enquanto as ruas seguem esburacadas e o calendário da próxima Micareta permanece incerto, uma coisa é certa: o povo de Feira continuará falando, cobrando e, claro, “sugestando”. Porque, em uma cidade em ebulição, o silêncio nunca foi uma opção.

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