Durante sua passagem por Feira de Santana nesta quarta-feira (28) para o 3º Seminário Estadual do Bahia Sem Fome, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), abordou as discussões em torno da formação de uma chapa “puro-sangue” do Partido dos Trabalhadores (PT) para as eleições de 2026, composta por ele próprio como candidato à reeleição, o ex-governador Rui Costa e o senador Jaques Wagner, ambos disputando vagas ao Senado. Jerônimo classificou o debate como parte do “jogo político” e destacou seu papel como líder na construção de uma aliança competitiva, buscando apaziguar insatisfações de aliados, como o senador Ângelo Coronel (PSD), que também pleiteia a reeleição.
O contexto da chapa ‘puro-sangue’
A proposta de uma chapa exclusivamente petista gerou desconforto entre partidos da base aliada, especialmente o PSD, que conta com dois senadores – Ângelo Coronel e Otto Alencar – e deseja manter sua influência no Senado. Coronel já expressou publicamente seu interesse em continuar na Casa, enquanto Otto Alencar, sugeriu que uma chapa “puro-sangue” pode ser arriscada, afirmando que “puro-sangue às vezes cansa”. Jerônimo, no entanto, minimizou as tensões, enfatizando a necessidade de diálogo. “Estamos jogando o jogo, mexendo as peças no tabuleiro. Wagner se movimentou para a reeleição, Ângelo também, e Rui tem credibilidade para concorrer. Meu papel é garantir a unidade”, declarou.
O governador reconheceu as aspirações legítimas de cada liderança, mas reforçou que sua prioridade é formar uma chapa competitiva que mantenha a coesão da base aliada, composta por PT, PSD, PCdoB e outros partidos. “Não há problema, quem faz política tem que saber que estamos cuidando com atenção das pessoas. Todos podem falar, mas eu, enquanto governador, vou construir a unidade”, afirmou, sinalizando que as negociações ainda estão em curso.
Estratégia política e desafios
A chapa “puro-sangue” reflete a força do PT na Bahia, que governa o estado desde 2007 e consolidou uma base sólida sob as gestões de Jaques Wagner, Rui Costa e, agora, Jerônimo. No entanto, a decisão de priorizar candidaturas petistas para as duas vagas ao Senado pode tensionar a relação com aliados históricos, como o PSD, que foi fundamental nas vitórias eleitorais de 2018 e 2022. Rui Costa, em entrevista recente ao Acorda Cidade, destacou a importância de alianças e afirmou que sua candidatura ao Senado está confirmada, descartando especulações de que poderia disputar o governo caso Jerônimo enfrentasse desgaste político. “Qualquer nota contrária é caluniosa. Meu nome está posto para o Senado”, reiterou.
Jerônimo, por sua vez, busca equilibrar as ambições individuais com o projeto coletivo, especialmente em um momento em que a oposição, liderada por ACM Neto (União Brasil), intensifica críticas à gestão petista. A formação da chapa para 2026 será crucial para manter a hegemonia do PT na Bahia, onde o partido enfrenta o desafio de sustentar a popularidade em meio a demandas por renovação e resultados concretos em áreas como saúde, educação e infraestrutura.
Repercussão em Feira de Santana
A declaração de Jerônimo em Feira de Santana, segunda maior cidade do estado, reforça sua estratégia de manter proximidade com o interior, onde o PT busca consolidar apoio para 2026. A cidade, historicamente um reduto de lideranças como José Ronaldo (União Brasil), tem sido palco de disputas políticas intensas. A presença do governador no seminário do Bahia Sem Fome, aliado ao discurso de unidade, sinaliza um esforço para fortalecer a base petista na região, enquanto dialoga com aliados e adversários.
A menção à chapa “puro-sangue” também ecoou entre lideranças locais. O deputado estadual Robinson Almeida (PT), presente no evento, destacou a importância de Feira como polo político e defendeu a liderança de Jerônimo na condução das negociações. “O governador tem habilidade para unir a base e construir uma chapa forte, respeitando as alianças que nos trouxeram até aqui”, afirmou.
Perspectivas para 2026
A formação da chapa para 2026 ainda está em aberto, com Jerônimo sinalizando que novas rodadas de diálogo com partidos aliados definirão o cenário. A possível candidatura de Rui Costa ao Senado, somada à reeleição de Jaques Wagner, reforça o peso político do PT, mas exige concessões para evitar rupturas com o PSD e outros parceiros. Ângelo Coronel, que apoiou Jerônimo em 2022, espera reciprocidade, o que pode levar a uma composição híbrida, com uma vaga para o PT e outra para o PSD.
O governador, no entanto, mantém o tom conciliador, apostando em sua capacidade de articulação para evitar conflitos. “Política é isso: diálogo, construção e respeito às diferenças. Vamos formar uma chapa que represente a Bahia e garanta vitórias”, concluiu. Com o cenário eleitoral de 2026 começando a se desenhar, Jerônimo Rodrigues assume o desafio de liderar a base aliada em um tabuleiro político complexo, onde unidade e competitividade serão determinantes para o futuro do PT no estado.