Lula defende nova missão de paz da ONU no Haiti e reforça cooperação com Caribe

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo à Organização das Nações Unidas (ONU) para que assuma o financiamento da missão de segurança no Haiti ou lidere uma nova operação de paz no país, que enfrenta uma grave crise humanitária, política e econômica devido à violência de gangues. A declaração foi feita durante a abertura da Cúpula Brasil-Caribe, realizada nesta sexta-feira (13) no Palácio Itamaraty, em Brasília, que reuniu líderes de 13 países, majoritariamente da Comunidade do Caribe (Caricom), além de Cuba e República Dominicana.

“O Haiti não pode ser punido eternamente por sua independência pioneira nas Américas. O abandono de hoje é tão grave quanto as indenizações injustas do passado. A comunidade internacional precisa se unir por um plano de desenvolvimento para o país”, afirmou Lula. Ele destacou que o Brasil apoia a conversão da atual Missão Multinacional de Apoio à Segurança (MSS), liderada pelo Quênia, em uma operação de paz da ONU ou a ampliação do financiamento internacional para estabilizar o Haiti, onde 1,3 milhão de pessoas estão deslocadas internamente devido à violência.

A cúpula também marcou o anúncio de iniciativas brasileiras para fortalecer a cooperação com o Caribe, incluindo programas de combate à fome, transição energética e integração regional, em um esforço para promover autonomia frente às tensões geopolíticas globais.

Crise no Haiti e o papel do Brasil

A violência das gangues, que controlam grande parte de Porto Príncipe e outras áreas estratégicas, agravou a crise no Haiti, com relatos de assassinatos, sequestros e saques. A MSS, aprovada pela ONU em outubro de 2023, é uma força policial internacional financiada por contribuições voluntárias, mas enfrenta desafios de recursos e coordenação. Lula defendeu que a estabilização da segurança é essencial para viabilizar eleições presidenciais, oferecendo apoio brasileiro na organização do pleito.

O Brasil, que liderou a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) de 2004 a 2017, mantém seu compromisso com o país. Lula anunciou que a Polícia Federal iniciará, nos próximos meses, o treinamento de 400 agentes da polícia haitiana, reforçando a capacitação local. Ele também lembrou ações históricas, como a doação de US$ 55 milhões para a reconstrução após o terremoto de 2010 e a concessão de mais de 90 mil vistos humanitários a haitianos desde 2012.

O Haiti foi selecionado, ao lado da República Dominicana, como um dos primeiros beneficiários da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, liderada pelo Brasil. Lula revelou que o governo estruturará um programa de transferência de renda para haitianos, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), como parte de esforços para enfrentar a insegurança alimentar.

Cooperação Brasil-Caribe

A Cúpula Brasil-Caribe abordou temas como segurança alimentar, mudanças climáticas, transição energética e conectividade. Lula condenou o embargo econômico contra Cuba, classificando como “descabida” sua inclusão na lista de países que apoiam o terrorismo, e anunciou a criação de um fórum ministerial Brasil-Caribe para aprofundar a integração regional. “Em um mundo marcado por disputas geopolíticas, nossa aproximação com o Caribe é um passo rumo à autonomia”, afirmou.

Segurança alimentar: Com mais de 12 milhões de caribenhos enfrentando a fome, Lula convidou países da região a aderirem à Rede de Sistemas Públicos de Abastecimento da América Latina e Caribe, que já inclui Cuba e São Vicente e Granadinas. O Brasil compartilhará sua experiência em estoques públicos de alimentos para estabilizar preços, enquanto busca ampliar exportações agropecuárias para a Caricom, reduzindo a dependência de fornecedores como EUA e China.

Mudanças climáticas: Lula cobrou metas ambiciosas para a COP30, que será realizada em Belém, e anunciou apoio técnico do Brasil e da Dinamarca a países caribenhos na elaboração de planos climáticos. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) colaborará no monitoramento da elevação do nível do mar, compartilhando imagens de satélites sino-brasileiros com a região.

Transição energética: O presidente destacou o potencial do Caribe para energia eólica e solar, comparando-o à trajetória brasileira com biocombustíveis. Uma missão do Ministério de Minas e Energia e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) explorará parcerias na região, visando diversificar fontes de energia sem penalizar países em desenvolvimento.

Conectividade: Lula anunciou acordos de cooperação aérea com Barbados e Suriname, além de um aporte de US$ 3 bilhões do BID para projetos de infraestrutura na América do Sul, com parte destinada à Guiana e ao Suriname, portas de entrada para o Caribe. Um adicional de US$ 5 milhões foi prometido ao fundo de desenvolvimento do Banco de Desenvolvimento do Caribe.

Contexto e desafios

A cúpula ocorre em um momento de tensões globais, com crises humanitárias e climáticas afetando especialmente nações vulneráveis como o Haiti e os pequenos estados insulares do Caribe. A liderança de Lula na articulação regional reflete o esforço do Brasil para recuperar influência diplomática, mas enfrenta desafios como a limitação de recursos para financiar iniciativas ambiciosas e a necessidade de coordenação com parceiros internacionais.

No Haiti, a proposta de uma nova missão de paz da ONU enfrenta resistências devido aos custos e à complexidade de operações anteriores, como a Minustah, que, apesar de sucessos, foi criticada por incidentes envolvendo tropas. A violência persistente no país exige soluções urgentes, enquanto o Caribe busca apoio para enfrentar os impactos climáticos, como furacões e a elevação do mar, que ameaçam sua existência.

Impacto e perspectivas

A Cúpula Brasil-Caribe reforça a posição do Brasil como mediador regional e defensor de causas globais, como a justiça climática e o combate à fome. As iniciativas anunciadas, como o treinamento policial no Haiti e os acordos com a Caricom, sinalizam um compromisso de longo prazo, mas o sucesso dependerá de financiamento adequado e articulação com a comunidade internacional.

Para o Caribe, a parceria com o Brasil oferece oportunidades de diversificação econômica e maior resiliência climática. “O Brasil sempre viu no Caribe uma voz de justiça. Juntos, podemos construir um futuro mais equitativo”, concluiu Lula. A cúpula marca um passo estratégico para fortalecer laços regionais, enquanto o apelo por uma nova missão no Haiti coloca o Brasil no centro do debate global sobre solidariedade e desenvolvimento.

FICHA TÉCNICA
Cúpula Brasil-Caribe 2025
📆 Data: 13 de junho de 2025
📍 Local: Palácio Itamaraty, Brasília (DF)
👥 Participantes: Líderes e representantes de 13 países (Caricom, Cuba, República Dominicana)
🌐 Temas: Segurança alimentar, mudanças climáticas, transição energética, conectividade, Haiti
ℹ️ Organização: Governo do Brasil

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