Parlamentares da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciaram discussões sobre a possibilidade de protocolar um pedido de impeachment contra o chefe do Executivo, motivados por um escândalo de fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A revelação do esquema, que culminou na demissão do ex-ministro da Previdência Social Carlos Lupi (PDT), reacendeu o embate político no Congresso Nacional.
Fraudes no INSS como estopim
O caso envolve fraudes que teriam causado prejuízos de bilhões de reais aos cofres públicos, com descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas. A operação, batizada de “Sem Desconto” pela Polícia Federal, expôs a atuação de sindicatos, incluindo o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e presidido por José Ferreira da Silva, conhecido como “Frei Chico”, irmão do presidente Lula.
A oposição aponta a proximidade de Frei Chico com o governo como um elemento que reforça a necessidade de investigação. O deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO) já começou a coletar assinaturas para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a apurar a participação de sindicatos no esquema. A iniciativa é vista como um primeiro passo para desgastar a imagem do governo antes das eleições de 2026.
Estratégias da oposição
Apesar do ímpeto inicial, não há consenso entre os oposicionistas sobre o pedido de impeachment. Alguns parlamentares defendem que o foco deveria ser na CPI, que poderia expor fragilidades do governo sem o desgaste político de um processo de afastamento. Outros, como o deputado Evair de Melo (Progressistas-ES), já protocolaram um pedido de impeachment, alegando crime de responsabilidade pela suposta omissão do governo diante das fraudes.
O impeachment, no entanto, enfrenta obstáculos significativos. Para ser instaurado, o pedido precisa do aval do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que, segundo interlocutores, prioriza a governabilidade e considera a abertura do processo “fora de cogitação”. Além disso, são necessários 342 votos na Câmara e 54 no Senado para aprovar o afastamento, um quórum difícil de alcançar sem apoio de partidos do Centrão.
Resposta do governo
O Palácio do Planalto reconhece o impacto negativo do escândalo, mas minimiza suas consequências políticas. Em declarações recentes, Lula afirmou que os aposentados prejudicados serão ressarcidos e que o governo trabalha para corrigir as falhas no INSS. Assessores presidenciais avaliam que o caso não comprometerá o projeto de reeleição em 2026, embora admitam a necessidade de reforçar a comunicação para conter o desgaste.
O PT, por sua vez, classificou as movimentações da oposição como “golpismo”. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, usou as redes sociais para ironizar: “Golpistas querendo impeachment de Lula só pode ser piada.” A base aliada também prepara uma ofensiva para blindar o governo, com possíveis retaliações a deputados signatários do pedido, incluindo cortes em emendas parlamentares.
Contexto político
O escândalo do INSS é o mais recente capítulo de uma série de tentativas da oposição de protocolar pedidos de impeachment contra Lula. Desde o início de seu terceiro mandato, o presidente já foi alvo de 13 pedidos, com argumentos que vão de supostas pedaladas fiscais no programa Pé-de-Meia a declarações polêmicas sobre Israel e o regime de Nicolás Maduro na Venezuela. Nenhum desses pedidos, contudo, avançou na Câmara.
Enquanto a oposição busca capitalizar o caso do INSS, o governo aposta na recuperação da imagem de Lula, que enfrenta queda de aprovação segundo pesquisas recentes. O Datafolha apontou uma redução de 11 pontos na popularidade do presidente, o que tem motivado a estratégia oposicionista de intensificar o desgaste político.
Próximos passos
A oposição planeja intensificar a coleta de assinaturas para o pedido de impeachment nas próximas semanas, enquanto a CPI do INSS ganha força com o apoio de deputados bolsonaristas. Paralelamente, o governo trabalha para neutralizar a crise, com foco na reposição dos valores descontados indevidamente e na nomeação de um novo ministro da Previdência que restabeleça a confiança na pasta.
O desfecho do embate dependerá da habilidade do Planalto em conter a narrativa oposicionista e da disposição do Centrão em apoiar ou não as investidas contra Lula. Por ora, o escândalo do INSS mantém o Congresso em ebulição, com reflexos que podem moldar o cenário político até as eleições de 2026.