Padre Fábio de Melo receberá R$ 600 mil por shows no São João da Bahia em meio a polêmica e debate sobre gastos públicos

O padre Fábio de Melo, conhecido por sua carreira musical e influência nas redes sociais, está confirmado como uma das atrações dos festejos juninos de 2025 na Bahia, mas sua participação tem gerado controvérsia. Segundo o Painel de Transparência do Ministério Público da Bahia (MP-BA), o religioso receberá R$ 600 mil por duas apresentações em cidades do interior, financiadas com recursos municipais. Ele se apresentará em Quijingue, no dia 24 de junho, e em Nordestina, no dia 26, embolsando R$ 300 mil por cada show. A revelação dos valores, aliada a uma recente polêmica envolvendo o padre em Joinville (SC), intensificou debates sobre transparência, gastos públicos e ética nas contratações artísticas.

Cachês elevados e transparência pública

Os shows de Fábio de Melo em Quijingue (25 mil habitantes) e Nordestina (13 mil habitantes) colocam os municípios entre os que mais investem nos festejos juninos de 2025, segundo o MP-BA. Quijingue, em particular, está entre as cinco cidades baianas com maior gasto per capita no São João, o que levantou questionamentos sobre a adequação dos valores pagos com dinheiro público. O Painel de Transparência, atualizado até 1º de junho, revela que 391 dos 417 municípios baianos declararam gastos de R$ 357 milhões com 1.020 artistas, destacando a magnitude dos investimentos no período junino.

O MP-BA prorrogou até 6 de junho o prazo para que prefeituras enviem dados sobre contratações, reforçando o compromisso com a transparência. O Painel, iniciativa pioneira do MP-BA em parceria com Tribunais de Contas (TCE e TCM), União dos Municípios da Bahia (UPB), Sebrae/BA, Universidade Federal da Bahia (UFBA) e outros, visa monitorar despesas, promover cidadania e premiar gestões transparentes com o Selo de Transparência, cuja entrega está marcada para 10 de junho. A ferramenta, acessível em paineljunino.mpba.mp.br, permite consulta pública de valores, artistas contratados e locais de apresentação, incentivando o controle social.

Polêmica em Joinville reacende críticas

A participação de Fábio de Melo no São João ocorre em meio a uma controvérsia que abalou sua imagem pública. Em maio, o padre protagonizou um incidente na cafeteria Havanna, em Joinville (SC), ao publicar um vídeo nas redes sociais alegando ter sido mal atendido pelo gerente Jair José Aguiar da Rosa. Segundo Fábio de Melo, o gerente foi “grosseiro” ao esclarecer uma divergência de preço em um pote de doce de leite. A exposição resultou na demissão de Rosa, que descobriu o desligamento pela imprensa e agora processa o religioso e a empresa por danos morais e trabalhistas.

Vídeos das câmeras de segurança, divulgados posteriormente, mostram Rosa lidando calmamente com a situação, contradizendo a narrativa inicial do padre. O Sindicato dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Sitratuh) emitiu nota de repúdio, acusando a Havanna de demitir Rosa para proteger sua reputação e criticando Fábio de Melo por promover um “exposed” que levou ao “cancelamento virtual” do gerente. “A empresa não apurou os fatos adequadamente e culpabilizou injustamente o empregado”, afirmou o sindicato. Rosa relatou ao NSC Total que a exposição destruiu sua imagem e teme dificuldades para conseguir novo emprego.

Fábio de Melo, por sua vez, disse que o vídeo foi um “alerta” sobre atendimento no comércio, negando intenção de causar a demissão. Em desabafo no Instagram, ele lamentou os “ataques orquestrados” e afirmou estar “a um passo de desistir” das redes sociais, refletindo sobre o ódio online. A polêmica dividiu opiniões: enquanto apoiadores defendem o padre, críticos o acusam de abuso de influência.

Contexto cultural e econômico

Os festejos juninos são um pilar da cultura baiana, movimentando milhões em turismo e comércio local. Em 2024, 328 municípios investiram R$ 333 milhões em 2.994 contratações artísticas, segundo o MP-BA, e a edição de 2025 deve superar esses números. A contratação de Fábio de Melo, embora polêmica, reflete a tendência de atrair figuras populares para maximizar o público, mas os cachês elevados em cidades pequenas reacendem discussões sobre prioridades orçamentárias.

Quijingue e Nordestina, com economias modestas, justificam os gastos como investimento em cultura e turismo, but specialists question the proportionality. “O São João é essencial, mas os valores precisam ser compatíveis com a realidade local”, disse o economista João Silva, da UFBA, ao jornal A Tarde. O MP-BA enfatiza que o Painel não visa coibir os festejos, mas garantir que os recursos sejam usados de forma responsável, com controle social e prevenção de desvios.

Repercussão e perspectivas

A contratação de Fábio de Melo gerou intensos debates nas redes sociais. Postagens no X destacam o contraste entre os R$ 600 mil pagos ao padre e as necessidades básicas de Quijingue e Nordestina, enquanto outros defendem o impacto cultural de suas apresentações. “É um absurdo gastar isso em cidades tão pequenas”, escreveu um usuário. Já um fã rebateu: “Fábio leva alegria e atrai turistas. Vale o investimento.”

O caso de Joinville, somado aos cachês, colocou Fábio de Melo no centro de uma crise de imagem. Analistas sugerem que o padre, conhecido por sua habilidade comunicativa, precisará reforçar sua narrativa de humildade para recuperar a confiança de parte do público. Enquanto isso, o processo movido por Rosa pode trazer novos desdobramentos, com potencial para prolongar a controvérsia.

Os festejos juninos de 2025 serão um teste para a gestão pública baiana, com o Painel de Transparência como ferramenta-chave para fiscalizar gastos. A participação de Fábio de Melo, apesar da polêmica, reforça sua relevância no cenário cultural, mas também destaca os desafios de equilibrar cultura, finanças públicas e responsabilidade social em um estado de rica tradição festiva.

Informações dos shows

  • Artista: Padre Fábio de Melo
  • Datas e locais: 24 de junho (Quijingue, BA) e 26 de junho (Nordestina, BA)
  • Cachê: R$ 300 mil por apresentação (total de R$ 600 mil)
  • Fonte de recursos: Recursos municipais
  • Consulta de dados: Painel de Transparência (paineljunino.mpba.mp.br)

Notícias relacionadas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *