Com o São João se aproximando, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), anunciou, durante o 3º Seminário Estadual do Bahia Sem Fome, nesta quarta-feira (28) em Feira de Santana, a proposta de liberar as cancelas das praças de pedágio da BR-324 para aliviar o tráfego durante as festas juninas. A medida visa reduzir os congestionamentos na rodovia, principal ligação entre Salvador e Feira de Santana, atendendo ao intenso fluxo de baianos e turistas que viajam para o interior nas celebrações de Santo Antônio, São João e São Pedro. Além disso, Jerônimo cobrou do Ministério dos Transportes soluções urgentes para o pavimento deteriorado e a ampliação de serviços de emergência, como guinchos e ambulâncias, destacando a necessidade de segurança para os motoristas.
Cenário crítico da BR-324
A proposta surge após o fim da concessão da ViaBahia, em 15 de maio de 2025, que gerenciava as BRs 324 e 116. Criticada por anos devido à má conservação das rodovias, a concessionária deixou um legado de pistas esburacadas e serviços precários, com as praças de pedágio desativadas e o tráfego desviado para vias laterais, intensificando engarrafamentos. “Estamos a dias do São João, e a BR-324 não pode virar um obstáculo. Pedi ao ministro Renan Filho celeridade na abertura das cancelas e na recuperação do asfalto”, declarou Jerônimo, enfatizando que a rodovia precisa estar preparada para o aumento de 50% no tráfego previsto para o período, segundo estimativas da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
O São João, que movimenta cerca de 1,5 milhão de pessoas no interior baiano, é um dos maiores eventos culturais do estado, com cidades como Feira de Santana, Amargosa e Cruz das Almas atraindo multidões. A BR-324, batizada em homenagem ao engenheiro Vasco Filho, é a espinha dorsal dessa mobilidade, mas enfrenta problemas crônicos, como falta de sinalização, buracos e atendimento insuficiente em emergências. Em 2024, a ViaBahia registrou 1,2 milhão de veículos na rodovia durante o período junino, e, sem os pedágios em 2025, o volume deve ser ainda maior.
Fim da ViaBahia e transição desafiadora
A rescisão do contrato com a ViaBahia, anunciada em setembro de 2024 pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi motivada pelo descumprimento de obrigações contratuais, como a duplicação de trechos e melhorias na infraestrutura. Ao longo de 14 anos, a concessionária arrecadou R$ 3,8 bilhões em pedágios, mas motoristas, como a comerciante Ana Lúcia Santos, relatam frustrações. “Perdi dois pneus em buracos na BR-324. Pagávamos pedágio caro por um serviço que nunca veio”, desabafou. A decisão, pendente de homologação pelo Tribunal de Contas da União (TCU), marcou o fim de uma era de críticas.
Desde maio de 2025, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) assumiu a gestão das rodovias, suspendendo a cobrança de pedágios até a nova licitação, prevista para dezembro de 2025. O DNIT trabalha na contratação de uma empresa para serviços de manutenção, como tapa-buracos e renovação da sinalização, mas a transição tem gerado desafios. A PRF relatou que o uso exclusivo das vias laterais nas antigas praças de pedágio causou filas de até 5 km em dias de grande movimento, como o feriado de Tiradentes, em abril.
Medidas e impacto esperado
A liberação das cancelas proposta por Jerônimo é uma solução emergencial para o São João, mas o governador defendeu ações estruturais. “Uma rodovia em boas condições reduz acidentes e economiza tempo. Queremos que a viagem de Salvador a Feira seja segura e rápida”, afirmou, citando o compromisso do governo federal com obras na BR-324 a partir de 2026, incluindo viadutos e a duplicação de trechos da BR-101. Ele também pediu a ampliação de guinchos e ambulâncias, essenciais em uma rodovia com histórico de acidentes graves, como a colisão em Simões Filho, em março de 2025, que vitimou cinco pessoas.
A suspensão dos pedágios, embora celebrada por motoristas, exige ajustes. A PRF registrou uma queda de 10% nos acidentes desde a saída da ViaBahia, mas alerta para os riscos do pavimento danificado. O governo estadual complementa as ações com a manutenção de rodovias estaduais, investindo R$ 4 milhões em 2025 para sinalização e recuperação de 2,5 mil quilômetros de estradas, beneficiando o acesso a cidades juninas.
Perspectivas para o São João
A proposta de Jerônimo reflete a urgência de preparar a BR-324 para o maior evento cultural da Bahia, mas o sucesso dependerá da execução rápida. O diálogo com o Ministério dos Transportes, reforçado pela proximidade política entre Jerônimo e Renan Filho, é um trunfo, mas a complexidade da transição pós-ViaBahia impõe limites. A nova concessão, planejada para 2026, prevê investimentos de R$ 2 bilhões em melhorias, incluindo a alça de acesso à Avenida Nóide Cerqueira, em Feira de Santana, mas, até lá, medidas paliativas serão cruciais.
Para os baianos, o São João de 2025 será um teste de fogo para a rodovia. A liberação das cancelas pode aliviar o tráfego, mas a qualidade do asfalto e os serviços de emergência definirão a experiência dos viajantes. Com o governo estadual mobilizado e o apoio federal sinalizado, a expectativa é que a BR-324 volte a ser um corredor de festa, conectando a capital ao coração do São João baiano com segurança e eficiência.
